sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Bate-papo sobre os pontos de vista de Pierre Bourdieu, em seu livro "Sobre a Televisão"

Jornalista convidado: Bruno Dalvi – Editor ESTV 2ª edição (TV Gazeta, afiliada Rede Globo).

Em uma conversa com o jornalista, de 27 anos, analisamos alguns pontos de Pierre Bourdieu sobre a televisão. Bruno Dalvi tem uma carreira consolidada com passagens por jornais impressos e televisivos de emissoras nacionais, bagagens de experiências acumuladas em nove anos de profissão e uma visão bem particular do trabalho jornalístico.
Foi um diálogo descontraído e cheio de opiniões. Trabalhei por oito anos em pequenas emissoras de televisão, do interior. E diante do bate-papo com Dalvi, vejo o abismo que existe entre as mais fracas e as mais fortes emissoras. Tenho uma visão e experiência diferente que permite acrescentar, a sociedade é manipulada sim, por não ter acesso às informações completas do que se passa por trás dos bastidores. Mas, cabem a nós jornalistas mostrar? Somos apenas canais de informação, se alguém quer falar o que existe de errado, damos a oportunidade e pronto, claro que ouvindo sempre os dois lados. A decisão final deve ser do público. Aí vem outra situação: nosso tempo de jornalismo é curto em televisão. As notícias são rápidas, sucintas e entregues quase que mastigadas, prontas pra serem engolidas. Isso não dá o tempo que eles precisam para entender e criar uma opinião própria sobre o fato.
Bourdieu destaca bem que os jornalistas interessados, em muitos casos, querem é disputar entre si a melhora nas informações, querem saber quem chega à frente, quem dá o que o outro não deu ou vai dar e não se mostram tão interessados em atender ao desejo do telespectador. E assim são capazes de criar o seu próprio público.

Você acha que os jornalistas são engessados pela chefia, que atende às pressões da massa, interessados na conquista de audiência?
Afirmo que há um interesse na conquista de audiência que caracteriza a conseqüência de um trabalho com credibilidade. Mas essa audiência é na verdade o sinônimo de agradar a um público maior. Tanto que nas reportagens são focados assuntos de interesse de um grande grupo, algo que envolva mais a comunidade e não seja interesse particular de alguém – o que já não caracteriza um jornalismo imparcial e canal de informação.

Concorda que os jornalistas possuem óculos que os permitem enxergarem além?
Sim. E isso deve acontecer. É um processo natural. Afinal, o jornalista deve ser preparado para isso, para realizar um ‘serviço público’, levar ao público o que ele precisa saber de informação. Importante lembrar que isso também só acontece se o profissional estiver bem preparado, ler diariamente jornais, revistas, sites de notícias, qualquer tipo de texto com conteúdo.

Como é o processo de seleção dos entrevistados? Existe algum preferencialismo?
Não necessariamente. A questão é que temos algumas fontes que acabam se tornando peças-chaves. São pessoas que firmam um relacionamento mais próximo e entende melhor o que queremos, compreende nosso dinamismo, estão dispostas a sempre colaborar e se alinhar em nosso tempo. Claro, concordo com Bourdieu que às vezes não temos tempo de buscar novas fontes, alinhar novas pessoas, porém, aí que vem o trabalho em equipe, eu tenho minhas fontes, o repórter tem outras, o colega ao lado mais outras. Assim vamos encontrando o melhor entrevistado para aquele determinado assunto. Buscamos o entrevistado que seja especialista no que será abordado, que saiba falar com diplomacia e convicção, valorizando ainda mais a credibilidade de determinada reportagem e a emissora.

Há interferência por parte do departamento comercial com seus interesses na linha editorial do jornal?
Aqui não. Um exemplo para citar é de um caso recente. Um de nossos maiores anunciantes (uma grande rede varejista de eletroeletrônicos) foi acusado de sonegação fiscal pela Polícia Federal. Essa informação foi divulgada em nosso jornal e citamos inclusive o nome da rede. Tudo bem, até soube depois, que o proprietário da rede havia ligado para o dono da emissora, os diretores, enfim. Mas, a chefia nem sequer disse algo a jornalismo do tipo “estão proibidos de divulgar tal informação ou peguem mais leve”. Isso é o que garante nossos índices de audiência, é o que aumenta nossa credibilidade com o público. Apesar de reconhecer que o jornalismo de outras emissoras até pode ser manipulado e liderado pelos interesses do comercial.

A imprensa manipula para ter os resultados que objetiva?Não. Pelo menos, não vejo isso. A imprensa é apenas um canal de informação. Jornalista que manipula informação comete um crime e deve pagar por isso. Daí a importância da boa e profunda apuração de notícias. Para frisar bem isso, só trabalhamos com fontes que existem e aceitam ser divulgadas. Nem cogitamos a idéia de dar papo a alguém que diz “vou te dar uma informação, mas não quero que fale que fui eu quem contou”. Nossa linha editorial é assim e seguimos um bom exemplo da rede a que somos afiliados.