sexta-feira, 8 de abril de 2011

Dói, dói muito...

Esta quinta-feira talvez tenha sido a mais desolada de minha vida. Não contive minhas lágrimas. Muito emocionada, chorei o dia inteiro, ao ver na TV as imagens de uma tragédia que abalou o mundo.


Na minha cidade, recém escolhida para viver, um homem armado entrou em uma escola pública e matou 12 crianças. Outras 13 ficaram feridas. Os tiros foram na cabeça e no tórax.

Ao ouvir os depoimentos e outras informações que chegavam a todo o momento, pensei no desespero das crianças. Imagino a cena. Creio que muitas nem tinham forças para correr pelos corredores da escola. Muitas também não devem ter conseguido tempo para pensar em uma forma de sair dali ou se esconder.

Como será para um pai pensar diante de tudo isso?

Imagino o que se passa na cabeça dos pais orgulhosos que viram os filhos saindo de casa ainda cedo para estudar. Seria mais um dia para aqueles jovens na busca pelo futuro promissor.

Talvez, alguns pais não tenham tido muito tempo para, neste dia, beijar o filho, acariciar o rosto dele com mais carinho, conversar mais, dar um abraço mais forte. Não sabiam que essa seria a ultima vez.

Alguns pais, quem sabe, nem tenham visto os filhos. Por causa da vida corrida, tiveram que sair de casa para trabalhar antes mesmo de o filho acordar.

Horas mais tarde apenas souberam da triste notícia. Seria o início de uma forte dor, do desespero em busca do filho.

Sorte daqueles que encontraram com vida e sem ferimentos a jóia mais preciosa da família, puderam abraçar e agora estar perto para cuidar.

Esperança para aqueles que aguardam o filho sair do hospital e seguir com a vida que, provavelmente, não terá mais o mesmo gosto.

Para quem o filho morreu, imagino a apreensão. Alguns abandonaram o trabalho, pegaram um ônibus ou uma carona, chegaram à escola, ao hospital, ao Instituto Médico Legal.

Não tenho a dimensão de quanto dói o peito, o coração.

Tento até imaginar, o que é ter que reconhecer o filho. Um adolescente indefeso, cheio de oportunidades pela frente, que acabou de deixar a infância. Será que o corpo está nu, deitado em uma gelada pedra de granito e coberto apenas por um fino lençol?

Os jornalistas disseram: o rosto de muitos jovens ficou deformado, irreconhecível.

Para o pai que fechou os olhos para chorar, acabou a imagem com o semblante sorridente do filho. Essa será o último momento que ficará guardado na memória. Uma cena que dificilmente será esquecida.

Mas, hora de resolver as burocracias, procurar os documentos do filho, liberar a papelada. Hora de contar com a ajuda de alguém.

Quem imaginava que o dia nunca mais seria esquecido?

O dia ainda seria longo. Esperar o corpo ser preparado, escolher o caixão, pagar os custos do sepultamento, passar a noite em claro, seguir pra casa e ter que encontrar as roupas do jeito que o filho deixou. Na cama, o lençol e o travesseiro ainda estão com o perfume do filho.

Ainda sem acreditar no que aconteceu, é preciso encontrar forças e seguir em frente.