segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Jogos olímpicos ou espetáculo televisivo?

A questão levantada por Pierre Bourdieu no livro “Sobre a Televisão” talvez abra um leque de novas descobertas sobre um mundo de sonho comprado, fantasiado. Leva a comparar o espetáculo das olimpíadas a uma novela ou teatro, em que os melhores personagens são escolhidos e cada cena muito bem produzida. Apesar da essência das olimpíadas que pode continuar a mesma de quando começou em 776 a.C. que é a disputa dos atletas representando o poder de suas cidades.

Na atualidade alguns jogos particulares acontecem embutidos a competição, são os jogos de manipulação da massa. Um bom exemplo é o real peso dado a cada esporte. Quem ganha mais espaço na mídia? O que dá mais retorno a publicidade dos patrocinadores que junto às emissoras de comunicação - que compram os direitos de transmissão dos jogos -, tornaram o COI (Comitê Olímpico Internacional) numa empresa com orçamento anual de 20 milhões de dólares, como cita Bourdieu em seu livro.

Para este ano, temos mais uma overdose de jogos e competições, divulgados em horários estratégicos e fortalecendo a idéia de que a imprensa é economicamente censurada. As Olimpíadas de Beijing, uma República Popular da China, começaram com manifestações políticas na chegada da tocha olímpica e nada mais se ouviu falar na imprensa. As notícias de violência foram bloqueadas pelos líderes daquele país e muitos esquemas montados para tornar o espetáculo um dos maiores da história.

Até o dia e horário da abertura dos jogos foram profundamente pensados: 08/08/2008 às 08h08. Coincidência? Não. O número 8 na cultura milenar significa prosperidade. O espetáculo, ou melhor, os jogos se encerram no dia 24 do mesmo mês.

Outro detalhe interessante é que não se podem portar bandeiras nem vestir camisetas temáticas (de times, torcida) em locais públicos, regras estipuladas pelo governo chinês.

Quer mais informações curiosas? A Agência Católica de Notícias publicou recentemente uma reportagem que citava informações do diário esportivo italiano "La Gazzetta dello Sport" e o diário espanhol "La Razón" no sentido de que a Bíblia, o livro sagrado dos católicos, aparece na lista de "objetos proibidos" na Vila Olímpica. A China logo tratou de censurar as reportagens e desmentir a informação através de entrevista coletiva do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Liu Jianchao. “Percebemos as reportagens e verificamos isso com as autoridades relevantes. A verdade é que as reportagens são rumores absolutos", disse.

O palco principal dos jogos será O Ninho de Pássaro, nome que faz alusão à forma retorcida da estrutura tubular. Local também das cerimônias de abertura e encerramento do evento, com capacidade para 91 mil pessoas sentadas - 11 mil assentos são removíveis. Uma mega-estrutura, com 258 mil metros quadrados que teve sua construção iniciada em dezembro de 2003.

Mais de 40 mil jornalistas estão credenciados para cobrir esta Olimpíada. Somente em rádio e televisão, são mais de 10 mil profissionais concentrados em um imenso prédio onde funciona o IBC, centro de transmissões.

Participando do evento, calcula-se aproximadamente um pouco mais de 10 mil atletas de mais de 200 países. Ao todo serão 302 eventos em 28 modalidades diferentes de esportes como: Atletismo, Badminton, Beisebol, Basquete, Boxe, Canoagem, Ciclismo, Esgrima, Futebol, Ginástica, Halterofilismo, Handebol, Hipismo, Hóquei, Judô, Lutas marciais, Nado Sincronizado, Natação, Pentatlo Moderno, Pólo Aquático, Remo, Saltos Ornamentais, Softbol, Taekwondo, Tênis, Tênis de Mesa, Tiro ao alvo, Tiro com Arco, Triatlo, Vela e Vôlei.

E para um país que possui culinária exótica aonde se inclui bichinhos estranhos ao hábito alimentar do resto do mundo até um comitê de Segurança Alimentar foi criado. Segundo o porta-voz do comitê, Tang Yunhua, há três anos, Beijing elaborou o Programa de Ação da Segurança dos Alimentos dos Jogos Olímpicos, a fim de elevar o nível de supervisão da segurança dos alimentos na capital.

Garantindo a alegria das comemorações no antes, durante e depois, a Vila Olímpica recebeu 100 mil camisinhas nesta edição - hotéis de Beijing, outros 300 mil. Informações do porta-voz do gabinete de saúde olímpico garantem que no primeiro semestre deste ano, foram registrados 489 novos casos de Aids na cidade que tem cerca de 18 milhões de habitantes, sendo mais de 43% infectados ao fazer sexo sem proteção.

Voltando ao assunto fazer bonito, ainda continua a tarefa ingrata e arriscada dos estrangeiros em tentar decifrar a China e sua complexidade. “Amigos chineses já aconselharam: tente entender as pessoas, os costumes, a cultura” disse Janaina Silveira, jornalista brasileira que está no país a trabalho.

Para evitar desconfortos e recepcionar muito bem os torcedores e curiosos, cartazes foram espalhados pelo distrito de Dongcheng, ensinando oito perguntas que os chineses não devem fazer aos visitantes. A lista ensina que não se deve perguntar ao estrangeiro: idade, salário, propriedades da família, estado civil, condição de saúde, endereço, crenças religiosas e orientação política. “A etiqueta chinesa e a estrangeira têm profundas diferenças conceituais, portanto precisamos promover o conhecimento das pessoas a este respeito para quando a cidade receber os estrangeiros que chegarão à cidade durante os Jogos Olímpicos”, disse Li Ning, presidente do Instituto de Etiqueta de Beijing, em entrevista à agência Xinhua.

Distante a todos pré-conceitos de repulsa a mais uma novela das Olimpíadas fica a idéia de que agora vamos é aproveitar mais um capítulo e torcer para que nosso Brasil faça bonito naquele país tão diferente. Além de esperar que em Londres, no ano de 2012 o espetáculo seja tão bem montado, dando continuidade ao sucesso de bilheteria das edições anteriores.


FONTES DE PESQUISA
China in Blog – www.clicrbs.com.br/blog/jsp
Istoé Online: www.terra.com.br/istoe/olimpiadas/jogos
BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. RJ:Jorge Zahar Editor

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